quarta-feira, 5 de agosto de 2015

MEMÓRIAS




Alegria na infância era mesmo os rios com suas águas frescas, onde sem roupa podia me banhar. As frutas do pomar e as do mato. 
Os juás, que delícia! Depois das queimadas nasciam em profusão. Enchia latas e me deliciava com suas sementinhas doces. 
Os araticuns... tinha os pequenininhos e os grandes que chamavam "cabeça-de-nego". 
As mangas... sempre amadureciam primeiro as que ficavam no alto. Para atingi-las, só mesmo a pedradas. Disputadas à pontaria, pertenciam a quem as derrubassem. 
As gabirobas... quantas espalhadas pelo mato. Araçás... estas eram raras. 
As jabuticabas... uma a duas vezes por ano faziam a alegria. 
Fascinaram-me desde criança e até hoje continuo encantada pelo seu brilho e sabor. Unidas nos galhos constituem mesmo um "desejo" nunca satisfeito. "DESEJO" é o título de uma foto de um pé de jabuticaba, carregado de frutas, que vi em uma exposição. Título perfeito para a obra do artista e da natureza. 
Os maracujás... que surpresa boa quando doces. Se azedos, não assustavam, pois até mesmo os limões "capetas", que nasciam nos matos, eram saboreados com sal. Assim como as mangas verdes. 
Subir nas árvores era um prazer. Vencer os obstáculos dos galhos, um desafio. 
Os cocos... aqueles que minha avó usava para fazer sabão. Amarelos, debaixo da casca marrom e que lá no fundo guardava uma castanha, só descoberta depois de quebrada, com uma pedra sobre outra pedra. Com ela se fazia um óleo, que servia para fritar bolinhos. 
As noites de lua... nelas havia sempre um mistério a me confundir: - como podia, uma única lua estar em todos os lugares? Nunca fiz essa pergunta a ninguém. 
As pipocas... quem será que descobriu que aqueles grãos de milho, de espigas diferentes, se colocados no fogo, pulavam e explodiam em floquinhos tão gostosos, com sal? Minha avó sempre brincava que as pipocas estouravam melhor se feitas por quem falava mal dos outros. Dizia também que era bom bater na tampa da panela repetindo: "rebenta pipoca e sai siriroca"... "rebenta pipoca e sai siriroca". 
Leite de vaca... com farinha e uma pitada de sal. Para ganhar leite no meio do dia tinha que jurar que não havia chupado laranjas. Havia a crença de que leite com laranja fazia mal. 
Minha avó pensava assim. Isso me faz crer que ela nunca mentiu para sua avó, pois eu tinha a certeza de que a mistura não fazia nenhum mal. Ficava calada, tomava o leite e ela ficava feliz pelo cuidado. Minha avó era uma pessoa tão boa que não merecia ser desagradada. 
Os amendoins... eram caixinhas de surpresa. Gostava daqueles ainda meio verdes... inchadinhos e macios. 
Acreditava que nasciam nas pontas dos galhos. Durante muito tempo observei impaciente, uma plantação de amendoins esperando que as vagens aparecessem. Os pés já estavam grandes e... nada. 
Certa manhã, ao acordar, qual não foi a minha surpresa! Os pés estavam sendo arrancados pelos colhedores e, sobre a terra, as raízes eram as "caixinhas".
Desapontada, nunca esqueci aquele dia. 
Assim como não sabia como nasciam os amendoins, da vida também nada sabia. 
Por isso, o que nunca mais faltou foi... DESAPONTO. 

Maria do Carmo Marinho

Um comentário:

  1. Se para você, descobrir como nasciam os amendoins foi desaponto, para mim é uma grande surpresa, pois só agora fiquei sabendo. Percebo que no seu blog teremos sempre uma informação nova... um aprendizado.

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