Alegria na
infância era mesmo os rios com suas águas frescas, onde sem roupa podia me
banhar. As frutas do pomar e as do mato.
Os
juás, que delícia! Depois das queimadas nasciam em profusão. Enchia latas e me
deliciava com suas sementinhas doces.
Os
araticuns... tinha os pequenininhos e os grandes que chamavam
"cabeça-de-nego".
As
mangas... sempre amadureciam primeiro as que ficavam no alto. Para atingi-las,
só mesmo a pedradas. Disputadas à pontaria, pertenciam a quem as derrubassem.
As
gabirobas... quantas espalhadas pelo mato. Araçás... estas eram raras.
As
jabuticabas... uma a duas vezes por ano faziam a alegria.
Fascinaram-me
desde criança e até hoje continuo encantada pelo seu brilho e sabor. Unidas nos
galhos constituem mesmo um "desejo" nunca satisfeito.
"DESEJO" é o título de uma foto de um pé de jabuticaba, carregado de
frutas, que vi em uma exposição. Título perfeito para a obra do artista e da
natureza.
Os
maracujás... que surpresa boa quando doces. Se azedos, não assustavam, pois até
mesmo os limões "capetas", que nasciam nos matos, eram saboreados com
sal. Assim como as mangas verdes.
Subir
nas árvores era
um prazer. Vencer os obstáculos dos galhos, um desafio.
Os
cocos... aqueles que minha avó usava para fazer sabão. Amarelos, debaixo da
casca marrom e que lá no fundo guardava uma castanha, só descoberta depois
de quebrada, com uma pedra sobre outra pedra. Com ela se fazia um óleo, que
servia para fritar bolinhos.
As
noites de lua... nelas havia sempre um mistério a me confundir: - como podia,
uma única lua estar em todos os lugares? Nunca fiz essa pergunta a ninguém.
As
pipocas... quem será que descobriu que aqueles grãos de milho, de espigas
diferentes, se colocados no fogo, pulavam e explodiam em floquinhos tão
gostosos, com sal? Minha avó sempre brincava que as pipocas estouravam melhor
se feitas por quem falava mal dos outros. Dizia também que era bom bater na
tampa da panela repetindo: "rebenta pipoca e sai siriroca"...
"rebenta pipoca e sai siriroca".
Leite
de vaca... com farinha e uma pitada de sal. Para ganhar leite no meio do dia
tinha que jurar que não havia chupado laranjas. Havia a crença de que leite com
laranja fazia mal.
Minha
avó pensava assim. Isso me faz crer que ela nunca mentiu para sua avó, pois eu
tinha a certeza de que a mistura não fazia nenhum mal. Ficava calada, tomava o
leite e ela ficava feliz pelo cuidado. Minha avó era uma pessoa tão boa que não
merecia ser desagradada.
Os amendoins...
eram caixinhas de surpresa. Gostava daqueles ainda meio verdes... inchadinhos e
macios.
Acreditava
que nasciam nas pontas dos galhos. Durante muito tempo observei impaciente, uma
plantação de amendoins esperando
que as vagens aparecessem. Os pés já estavam grandes e... nada.
Certa
manhã, ao acordar, qual não foi a minha surpresa! Os pés estavam sendo
arrancados pelos colhedores e, sobre a terra, as raízes eram as "caixinhas".
Desapontada,
nunca esqueci aquele dia.
Assim
como não sabia como nasciam os amendoins,
da vida também nada sabia.
Por
isso, o que nunca mais faltou foi... DESAPONTO.
Maria do Carmo
Marinho
Se para você, descobrir como nasciam os amendoins foi desaponto, para mim é uma grande surpresa, pois só agora fiquei sabendo. Percebo que no seu blog teremos sempre uma informação nova... um aprendizado.
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