sábado, 23 de abril de 2016

PARADOXO







A um profundo amor à natureza, que a todos pertence por dádiva de Deus, se contrapõe uma aversão às repressões e injustiças sociais. Amor e Ódio: um PARADOXO.

Amo a vida!
No vento que sussurra,
Na chuva que goteja,
Nas estrelas cintilantes, misteriosas.
Na lua que aparece
Majestosa e bela
E me encanta, deslumbra,
Fascina.
Nas folhas verdejantes,
Saltitantes ao vento...
Nas flores coloridas,
Das mais simples
Às mais exóticas...
Para mim, não existem flores simples,
Todas são majestosas,
Que são iguais para todos,
Que não têm uma roupa
Para cada ocasião,
São sempre flores...
Que perfumam sempre da mesma maneira.

Amo a vida!
Nas águas que escorrem
Lentas e mansas,
No lago que descansa.
Bravias e revoltas
No mar, no oceano,
Nas tempestades...
Nos pássaros que revoam,
Que têm todo o mundo a seu dispor,
Mas ninho, sempre um.
Nas frutas apetitosas,
Das amoras aos cajás,
Doces, azedas, macias,
Todas...

Amo a vida!
Pelo céu,
Azul, o mais lindo que existe.
As nuvens,
Meu Deus, como me encantam!
Fofinhas, parecendo algodão!
Pelo sol que energiza,
Que é vida, calor
Que me aquece
O corpo e o espírito.
Pelos peixes...
Ah! Os peixes...
Não me canso de vê-los,
Pra lá... pra cá,
Cada qual com sua cor,
Com seu jeito.
Considero-os meus irmãos,
Pois sou de “Peixes”.
Tenho por eles um carinho especial.

Amo a vida!
Pelos vegetais
Todos, sem exceção.
Do cáctus ao miosótis,
Da mais frondosa árvore
À minúscula relva.
Amo a todos,
Como a uma parte de mim.

Amo a terra!
Esta força viva
Que dá vida à semente,
Que mantém a vida
No planeta,
E que nos acolhe
Em seu seio
Silenciosa e pródiga
Como última morada.
Esta terra
Onde ensaiamos
Nossos primeiros passos
E, quando já crescidos,
Não paramos pra pensar
Que ela deveria ser de todos
A ser disputada palmo a palmo,
Pela força do capital,
Não restando à maioria
Senão palmos
Num cemitério público.

Amo a vida!
Pelo ar
Que me mantém viva
Ainda que poluído,
Destruído,
Pela insensatez dos homens.
Amo a vida!
Pelos animais
Que povoam a terra,
Controlados apenas pelos instintos.
Que não evoluem,
Mas que não violentam
As leis naturais
Da espécie.
E... diante de tudo
Que me faz amar
Um amor incontestável
E imutável,
Há um paradoxo.
Porque na vida,
Não apenas amo,
Porque...

Odeio a vida,
Quando tenho
Que me ajustar,
Adaptar
A normas anormais
Que me cerceiam
E limitam
Enquanto pessoa.
Que violentam
A minha individualidade.
Quando não posso amar
Livre e sem culpa,
Que me foi introjetada
Por uma educação
Que não “educa”,
Mas condiciona.
Que me torna
Uma máquina
Controlada pelas leis
Dos homens,
Que violam a lei natural
Das vidas.

Odeio a vida!
Miserável e abominável
Da maioria dos homens,
Que por causa de outros homens,
Tão homens quanto eles,
Não têm acesso
À dignidade.
Quando a insatisfação
É uma constante,
Quando o normal
É a anormalidade
De uma sociedade
Ajustada,
Injusta e hipócrita.
Quando a liberdade
É cerceada, castrada, limitada.
Quando produzir e consumir
Se confundem
Num objetivo universal,
Que massifica
E que torna a humanidade
Cada dia mais vulnerável
E menos consciente.

                 Maria do Carmo Marinho