Saudade é um nó que aperta. O peito, o
coração. Engasga e faz brotar
água escondida numa fonte pequenina, perto dos olhos. Sentir saudades de pessoas
que se foram e não mais voltarão, de lugares onde um dia vivi ou conheci é fato
tão natural que sequer me dou conta de que acontece todos os dias. São saudades boas. Percebo-me
triste quando sinto saudades de mim. Da lembrança dos sonhos que se acabaram, porque não
poderiam mesmo se concretizar; da coragem para me arriscar e me frustrar; do entusiasmo que, na
realidade, era fruto de uma crença naquilo que não existe; da vaidade, que se
prendia a detalhes que só tinham importância para mim; da força que me
impulsionava a fazer acontecer o
impossível, vencer desafios e me renovar a cada dia; da alegria que me fazia
achar graça de coisas sem a menor graça. Ai! Que saudades de mim! Fico sentada,
sozinha, com meus pensamentos. O olhar se perde num vazio de imagens que se
apagaram e se encontra em outras que relutam em ficar. As folhas verdes das
plantas revelam o milagre da vida. Do jarro de rosas cor-de-rosa exala um
perfume doce e envolvente. Hoje é domingo. Dia de sentir saudades. De sentir
solidão. Talvez isto explique o fato de que tantas pessoas cometam suicídio no
domingo. A saudade daquilo que fui e hoje não sou mais me deixa triste. Dizem
que o tempo tudo muda, com tudo acaba. Penso que o tempo
simplesmente passa. Diversos são os fatores que ao longo do tempo provocam as mudanças, as destruições, transformações, seja no mundo
material ou imaterial. Foram os
acontecimentos positivos e negativos que impactaram a minha vida e me fizeram crescer,
aprender/desaprender, evoluir, amadurecer.
Transformaram a minha crença, a minha esperança e destruíram a minha
ilusão. Tornaram-me cada vez mais racional. O excesso de razão deixa a vida
cinzenta. Sinto saudades da emoção.
Maria
do Carmo Marinho