quarta-feira, 19 de setembro de 2018

SAUDADE







           

Saudade é um nó que aperta. O peito, o coração. Engasga e faz brotar água escondida numa fonte pequenina, perto dos olhos. Sentir saudades de pessoas que se foram e não mais voltarão, de lugares onde um dia vivi ou conheci é fato tão natural que sequer me dou conta de que acontece todos os dias. São saudades boas. Percebo-me triste quando sinto saudades de mim. Da lembrança dos  sonhos que se acabaram, porque não poderiam mesmo se concretizar; da coragem  para me arriscar e me frustrar; do entusiasmo que, na realidade, era fruto de uma crença naquilo que não existe; da vaidade, que se prendia a detalhes que só tinham importância para mim; da força que me impulsionava   a fazer acontecer o impossível, vencer desafios e me renovar a cada dia; da alegria que me fazia achar graça de coisas sem a menor graça. Ai! Que saudades de mim! Fico sentada, sozinha, com meus pensamentos. O olhar se perde num vazio de imagens que se apagaram e se encontra em outras que relutam em ficar. As folhas verdes das plantas revelam o milagre da vida. Do jarro de rosas cor-de-rosa exala um perfume doce e envolvente. Hoje é domingo. Dia de sentir saudades. De sentir solidão. Talvez isto explique o fato de que tantas pessoas cometam suicídio no domingo. A saudade daquilo que fui e hoje não sou mais me deixa triste. Dizem que o tempo tudo muda, com tudo acaba. Penso que o tempo simplesmente passa. Diversos são os fatores que ao longo do tempo provocam as mudanças, as destruições, transformações, seja no mundo material ou  imaterial. Foram os acontecimentos positivos e negativos que impactaram a minha vida e  me fizeram crescer, aprender/desaprender, evoluir, amadurecer.  Transformaram a minha crença, a minha esperança e destruíram a minha ilusão. Tornaram-me cada vez mais racional. O excesso de razão deixa a vida cinzenta.  Sinto saudades da emoção.

                                       Maria do Carmo Marinho