terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

QUEM ENTROU NA MINHA CABEÇA?







Sabe quem entrou na minha cabeça hoje? Estava fazendo um lanche, sentada no banquinho da cozinha. Pão integral com ricota, leite desnatado com café descafeinado. Pra não engordar e cuidar da saúde.  Por que será que só os alimentos com menos sabor não engordam? Você entrou na minha cabeça, assim “do nada,” como diz minha filha. Não costumo pensar em rainhas, muito menos em RAINHAS REAIS. Como a senhora. Que tem nome, chapéus cor-de-rosa, anda à noite pelos jardins do palácio, aproveitando a insônia. Outro dia ouvi falar de você. Achei-a bem simpática e justa. Em vez de dar uma bronca no segurança que pensou em atirar no vulto que viu, andando pelo jardim, durante a madrugada, prometeu ser mais cuidadosa e avisar, da próxima vez que o sono lhe faltar e resolver dar um passeio. Nunca pensei em sono de rainha. Deve ser um sono leve. Sono bom mesmo a gente tem depois de um dia cansado e rainha não deve se cansar nunca. Sem casa pra limpar, contas pra pagar, filhos pra levar e buscar na escola, trânsito caótico, filho desempregado, marido estressado... Fiquei pensando como deve ser a vida de rainha, principalmente como é ser casada com um Rei, ou melhor, com um Príncipe. Ele gosta de mandar em você? Já criticou suas roupas, seus modos, achando-os vulgares? Desconfiou que você poderia estar interessada em algum homem que frequente a corte, algum segurança, mordomo? Alguma vez, durante a vida, ele já gritou com você? Olha, sempre que lhe chamo de “Você”, estou pensando em Senhora, viu? Já lhe proibiu de fazer alguma coisa? Por exemplo, participar de uma reunião, fazer uma viagem sozinha? Ah! Ele já brigou com você, sem motivo, e no auge do descontrole lhe chamou de puta? Isto mesmo. Não se assuste. Os plebeus costumam ofender as mulheres com este nome e outros ofensivos e discriminatórios. Você, certamente desconhece a vida de mulheres comuns que povoam este imenso planeta. Que bom pra você!  Fico pensando como deve ser a vida de “Rainha” mesmo, não como dizia minha avó, referindo-se a alguma mulher que ela achava que tinha vida boa. Ela dizia: “Fulana tem vida de rainha”. Naquele tempo eu só ouvira falar das rainhas dos contos de fadas e eu sabia que elas não existiam. Mas, as vidas que minha avó achava que eram de rainhas, nem de longe lembravam, sequer, a vida das suas serviçais, que convivem com a riqueza e o luxo, embora deles não sejam donas. Fiquei aqui pensando, como deve ser a vida de rainha. Roupas, só de luxo,  jóias, as mais caras e lindas, perfumes, os mais caros e famosos, passeios, viagens, jantares, castelos, homenagens e ... um marido Príncipe. Como será ter um Príncipe como marido! Será que ele lhe trata sempre como uma “rainha”, ou será que algumas vezes, você já teve que fingir, publicamente, que tudo estava bem, quando lá dentro, bem no fundo, queria estar longe dele? Isto já aconteceu? Ele já foi grosseiro, mentiroso, criticou as suas roupas, o seu corpo? Você já foi dormir, alguma noite, chorando porque ele a destratou? Ah!  Às vezes acho que rainha não chora. Pelo menos, se chora, não deve mostrar para os outros. Afinal Rainha é Rainha. É poderosa, não pode demonstrar fraqueza. Tem que estar sempre serena, dar um  tchauzinho de leve, com um sorriso que sai pelos cantos da boca. Gargalhar, pode?  Descabelar? Certamente, não. Afinal não deve  existir motivo para isto. O Rei pode lhe dar beijos quando quiser e onde quiser? Nunca tinha pensado nisto. Será que existem protocolos especiais para se fazer os príncipes e princesas que nascem? Como é que um Casal Real ( Real de realeza),  faz “amor”? Agora é assim que se fala, né? Fazer amor. Será que rainha pode dar gritinhos, respirar alto, perder a linha? Ah! ...Deixa pra lá. Não cabe a mim imaginar. Fiquei aqui pensando, numa coisa que sempre me faz questionar: por que neste mundo algumas pessoas têm o privilégio de nascerem inteligentes, bonitas, ricas, nobres, famosas enquanto outras já nascem fadadas ao sofrimento que eu chamo de vitalício, ou seja, irá durar até a morte? Portadoras de doenças irreversíveis, físicas e mentais, em famílias miseráveis, entregues à própria sorte. Por que será?  Por que alguém tem o privilégio de nascer nobre? E outro a desventura de nascer pobre? Rainha é uma pessoa tão distante da minha realidade e da realidade que vemos à nossa volta, que nem consigo imaginar. Acostumada com tantos desafios pra vencer, problemas de toda ordem e em todos os lados da vida, imaginar a vida de rainha me dá tédio... Fui mal acostumada. É isso aí.

                                                      Maria do Carmo Marinho



Obs.: Fiquei em dúvida, se deveria escrever rainha com letra maiúscula ou minúscula. De um jeito ou de outro, o meu respeito por ela é o mesmo.