segunda-feira, 3 de agosto de 2015

ENTARDECER DO TEMPO


O que fazer quando o entardecer do tempo começa a cair sobre a vida? 
Cinzentas pinceladas de ocaso cobrindo o verde da esperança. O amarelo da alegria tingindo-se de vermelho dos olhos lagrimados que choram de desencanto. Pelos amores desencontrados, pelas partidas inesperadas, pelas buscas malogradas... 
O lilás, que com sua força protegia a alma dos ventos da desilusão, dando lugar ao roxo das paixões mal vividas, das tristezas escondidas dos sonhos esquecidos. 
As cores do nascente, cedendo lugar às cores do poente. 
A última beleza do fim. Uma beleza melancólica, pois dela há uma certeza: o negror inevitável da noite. 
As cores do nascente têm alegria singular. Pois é certo o sol. Ainda que não apareça, continuará escondido entre nuvens, que por mais poderosas que sejam, são passageiras... não têm consistência. 
Quantas já existiram e, apesar de densas e escuras, não sobreviveram ao impor dos ventos e se dissiparam. 
Nuvens são águas... solidificam, liquefazem e desaparecem no vapor. O sol, não. Esse é eterno e não se deixa vencer. 
Às nuvens, muito se assemelha a vida. 
Por mais forte que pareça é frágil. Não resiste às intempéries da doença, dos sinistros, das amarguras, da desilusão. 
O que fazer quando o poente está próximo? 
Talvez nada. Apenas ficar atento à visão da última cor, que agora é fim, mas que um dia foi começo. 
Na vida, tudo começa e tudo acaba. Não se prenda no tempo que passou. 
Bendiga a vida que se teve e se desta restar mais alegrias... sorria... alegre-se... comemore com todas as cores! 
Se dela restar mais tristezas, não se entristeça. 
Olhe o céu ao entardecer. O crepúsculo é rápido. Num piscar de olhos as cores se misturam... modificam-se... desaparecem. A noite se instala. 
Chega a hora de dormir...

Maria do Carmo Marinho


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