quarta-feira, 28 de abril de 2021

 

 

 

 

Era uma vez...

Um Passageiro...

Veio de passagem meteórica. Tão logo chegou, tão logo se foi.

Na realidade não era um passageiro comum. Viajante das estradas.  Era um pássaro. Parecido com tantos outros que povoam a terra. Mas tinha algo diferente. Não pousava em nenhum galho. Era saltitante, de lá pra cá, de cá pra lá. Sempre a observar. Nesta mesma estação, que assim como na rua em que existia um bosque que se chamava solidão, existia uma flor solitária, que há muito já desabrochara. Ao pássaro que a tudo observava, não passou despercebida. E o pássaro, como passageiro que era, assim como veio, tão logo se foi. Não sem antes lhe dizer: Olá! Estou indo, mas voltarei sempre que o tempo me permitir, para fazer visitas. Visitas de beija-flor, prometeu. A flor, até então distraída, perdida em descrenças, percebeu que o pássaro, com voos rasantes, a descobrira. Ajeitou suas pétalas e exalou o perfume que ainda existia. Ouviu a promessa... encantou-se e passou a esperar. Mas, no fundo sabia que, um dia, não  haveria próxima visita. Beija-flores plainam, beijam as flores, mas não deixam marcas. Encantam-se, deleitam-se, sem deixar pegadas.  As flores desabrochadas têm menos tempo. Logo as pétalas vão murchando e, de uma em uma , vão se despencando e colorindo o chão. Despetalada, a flor não será mais vista e não receberá mais visitas. Beija-flores não catam pétalas. Sugam néctares. Beija-flores se orientam pelas flores vivas. Com a flor caída, não saberá mais como encontrá-la.  

                  Maria do Carmo Marinho.