domingo, 30 de outubro de 2016

PENSANDO NO FIM








No dia 02 de novembro comemora-se o dia de Finados. Uma homenagem aos que já morreram. Flores são levadas aos cemitérios, missas celebradas. Acredito que a maioria pensa na morte dos outros e se esquece da própria. Que um dia chegará, inevitavelmente. Na época do colégio as freiras sempre diziam que quem pensa na morte, vive bem. Hoje não tenho dúvida. Se as pessoas pensassem na finitude da vida, por certo praticariam mais a generosidade, a compaixão, respeitariam e teriam mais cuidado com as  pessoas, com a natureza, aceitariam as diferenças. Não seriam tão agressivas, egoístas e violentas. Se assim procedesse a humanidade, por certo a vida seria realmente bonita como diz a canção do compositor Gonzaguinha “É bonita, é bonita e é bonita.” Como está, falta muito para se concretizar esta beleza. Infelizmente. Não me esqueço da morte e a vejo como ESPERANÇA. Dela veio a inspiração para “PENSANDO NO FIM”.

Se da vida eu pudesse,
Nas mãos, alguma  coisa levar,
Quando morresse,
Por certo eu levaria
A música, a estrela, o luar,
Todas as plantas,  crianças
E um pedaço do mar.

Esta ventura, eu sei,
Não me será dada,
Como não foi dada a ninguém.
Mas, outra maior, com certeza,
A todos se concedeu,
De aqui um dia deixar,
Tudo aquilo que se sofreu.
A dor, a desilusão,
A tristeza, a solidão,
O desencanto, o desalento,
A desdita, o dissabor.

Se as flores aqui ficam,
O sofrimento também.
Por isso, bendita seja a morte,
Bendito seja o fim.
Pois, se aqui não  podemos
Viver entre flores e alegria,
Porque espinhos insistem
A nos ferir em desafio,
A certeza do fim
É acalento, é esperança,
Que toda angústia alivia,
E faz viver cada instante,
Amando a cada momento,
Como se fosse a última hora
E como se fosse o último dia.


                   Maria do Carmo Marinho

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

POEMAS DE SOLIDÃO










Solidão não é apenas a falta de amor ou de pessoas. É falta de confiança, de afinidade.

SÓ...

Estou só...
Extremamente só.
O burburinho continua
Lá fora.
A vida acontecendo ....
Esvaindo-se,
Através dos meus dedos.
O fim de semana,
O dia agitado
E uma tremenda solidão!
Um desejo sufocado,
Uma vontade adiada.
Um TUDO
Que não diz NADA.
Estou só...
Apesar de TODOS.

                                                    Maria do Carmo Marinho


CONCLUSÃO

Não é perda de tempo,
Quando paro
E fico a avaliar
Os meus sentimentos,
As minhas necessidades,
As minhas inquietações.
Esta solidão me faz bem,
Porque não estou só.
Estou comigo.

                                            Maria do Carmo Marinho


INQUIETUDE

Permito-me parar e ficar,
Sem nada sério. Fazer para quê?
O compromisso limita.
Hoje não consigo pensar.
A lei, o cálculo, o prazo,
Nada me interessa.
Quero ficar assim...
(A cabeça meio tonta...).
Foi o analgésico.
Não o suporto mais.
Não consegue dopar
A consciência. Isso, nunca!
Vou para a rua?
...Há muita gente.
E não preciso de muita.
Basta uma? Ou algumas?
Quem sabe...
O que sei é que falta.

                                      Maria do Carmo Marinho

CAMINHOS






                                           



A vida não tem estradas.
Tem caminhos,
Emaranhados, intrincados.
A nos confundir,
A nos enganar.
Quando cremos tê-los encontrado,
Encontramo-nos perdidos
E cansados
De tanto caminhar.
Se paralelos os caminhos
Não nos cruzamos.
Se se cruzam,
Embaraçamo-nos,
Machucamo-nos
E vamos deixando
Em cada caminho
Os sonhos, a ilusão
A esperança.
E descrentes,
A cada dia,
Sem caminhos,
Ainda assim caminhamos.
Até quando?
                                                   Maria do Carmo Marinho

                             

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

MAIS POEMAS DE AMOR E ...DOR











QUATRO MOMENTOS. TEMPOS DE UM AMOR.

Primeiro  momento:

No meu peito tem um balão...
Inflado, colorido
De alegria,
De entusiasmo,
De ilusão.
Momento mágico
De amor,
De emoção,
De esperança.


Segundo momento:

No meu peito tem um balão...
Esvaziando,
Desbotando...
Alfinetadas atingindo-o.
São tantas... certeiras,
Ora aqui, ora ali.
O calor das ofensas
Retirando-lhe a cor.


Terceiro  momento:

No meu peito tem um balão...
De chumbo.
Endurecido... dolorido.
A cor que era de alegria
Hoje é de tristeza.
O entusiasmo,
Não mais me entusiasma.
A esperança, a ilusão
Agora, onde estão?
No meu peito existe dor.
Quem diria...
Depois de tanto amor.


Quarto  momento:

No meu peito tem um balão...
De algodão, macio, leve,
Devagar... Sem pressa.
Meu coração tem a calma
Da aceitação.
No meu peito tem um balão
Silencioso...  solitário
Branco... encenando PAZ.

                                               Maria do Carmo Marinho


LOUCURA

Eu amei a fantasia.
Animei o sonho
Inanimado que dormia,
E que há muito tempo não sabia
O que era sonhar.
Amei a fantasia,
Sobrevoei a realidade,
Acreditei em mentiras
Entrei em barco furado,
Naveguei sem remo,
Alcei voo sem ter asas.
Desci de paraquedas fechado,
Despenquei,
Caí...
Mas...LEVANTEI.

                                            Maria do Carmo Marinho


FIM

Busco palavras...
Que se perderam num labirinto
De emoções renitentes,
Teimosas, que não se entregavam
Certas de que não pudessem acabar.
Mas, o coração quando ferido,
De emoções também cansa,
E o cérebro que não descansa
Também resolve parar.
E para falar de amor,
Decide
Nenhuma palavra lembrar.

                                              Maria do Carmo Marinho


IMPOSSIBILIDADE

Ah! Se me fosse dado
Retornar o tempo.
Eliminar o hoje
E reviver o ontem.
Nasceria nova a ilusão,
Brotaria verde a esperança,
Brilharia alegre a alegria.
Eu seria apenas um prenome,
Um ser qualquer,
Misturado entre tantos.
Desejada e esperada.
Mas... agora é hoje.
O ontem já passou.
Considero a realidade
E me curvo diante de tal
IMPOSSIBILIDADE.

                                            Maria do Carmo Marinho








quinta-feira, 1 de setembro de 2016

POEMAS DE AMOR E DOR





                                                                               

 Às vezes  penso que sou a reencarnação da Florbela Espanca. *(risos...) A dor me dói tanto quanto nela doía. Os momentos de dor são importantes. A dor nos modifica, nos torna fortes e nos ensina a só dar valor àquilo que realmente merece.


HOJE

Hoje, meu coração
Já não bate mais.
Bateu muito.
Descompassado... acelerado.
Hoje, não o sinto no peito.
Está quieto, resignado.
De tanto ser machucado
Resolveu,
Aqui no canto, do lado,
Encolher-se tão desolado,
Que nem tocando eu lhe sinto.
Será que morreu?
Pergunto eu, assustada.
Ao que ele responde, magoado:
Não morri.
Estou aqui, no mesmo lugar,
De onde não sairei.
Adormeci, quero paz!
De tanto bater em vão, já cansei.

                                          Maria do Carmo Marinho

PERGUNTA

Por onde andam os dias,
Que encantados fluíam
Assim tão  de repente,
Que ao atinar para o tempo,
Lá fora o sol descaía,
A noite escurecia
E a lua também se abria?

Velhos tempos!
Não tão velhos, foi ontem.
Outros tempos?
Sim, outros tempos.
Quando a fantasia
Contrapunha à realidade,
Que escondia o extremo limite do humano.
Que escondia sentimentos
Tão mesquinhos.
Sentimentos! De onde vêm?
São naturais? Impostos?
Saudáveis? Doentes?
Sentimentos me confundem,
Desnorteiam.
Ponho-me a perguntar,
Sem resposta.
Com estabelecer limites
Entre a maldade e a insanidade?

                                           Maria do Carmo Marinho.

DECISÃO

Não te deixarei chorando,
Para que não sobrepujes sobre o meu amor.
Quero te deixar em calma,
Saindo lentamente,
Como quem assiste ao último ato
Da peça que a vida escreveu.

As peças da vida são reais.
Os personagens também.
Os amores podem ser falsos,
Doentes, alucinados,
Ou verdadeiros.
Assim eu te amei.
Por isso, não te deixarei chorando,
Para que não sobrepujes
Sobre o meu amor.

                                              Maria do Carmo Marinho

POEMA INACABADO

Se vais,  de ti não sinto falta.
O tempo,  a distância,
São inimigos do amor.
Sinto falta de mim.
Do meu sentimento
Que alimenta minha alma,
Que me faz generosa
E alimenta a minha esperança
De acreditar que o amor transforma.
Ah! Os sentimentos!
Tão nobres,  tão mesquinhos...
Não podem mesmo
Ser eternos.

                                                 Maria do Carmo Marinho

I-REALIDADE

Esperei sem esperança...
Porque a esperança é sábia.
Sabe o que pode esperar.
O que tive não foi esperança,
Foi fantasia.
Fantasia tão real,
Que de tão clara a irrealidade
Nem a mim mesma enganava.

                                     Maria do Carmo Marinho


*Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa, nascida em 1894. Teve uma vida marcada por muitos sofrimentos que eram traduzidos em sonetos, que falavam de amor,  tristeza,  solidão, morte, abandono. Foi precursora do feminismo em Portugal e  uma das primeiras mulheres a cursar Direito na Universidade de Lisboa.  Teve um fim trágico. Em 1930 não resistiu à terceira tentativa de suicídio e faleceu. Seus sonetos são de uma força e  sensibilidade ímpares. Merecem ser lidos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

PEQUENOS POEMAS





VIVER
É estar de sentinela.
Alerta...
Incerta...
Esperta.


OUTRA VISÃO

E Deus fez o céu,
A lua, as estrelas,
As plantas, os animais,
Os mares, os oceanos,
TUDO.
E viu que era bom.
E Deus fez o homem...
Para estragar
TUDO.


TALVEZ

Talvez,
Eu tenha sido
Apressada demais.
Talvez não tenha sabido
Que a vida acontece,
De qualquer jeito...
Com pressa. Ou sem pressa.
Existem andares lentos
E corridas malucas.
Ambos levam a algum lugar.

                                                               Maria do Carmo Marinho


sexta-feira, 29 de julho de 2016

CANSAÇO



                          
Sabe? Aquela noite em que seu corpo está cansado... o cérebro a mil? Você tem marido, companheiro ou namorado e sabe que seu cansaço vai incomodar porque não estará disponível com a alegria e entusiasmo de gueixas?  Que tristeza! Dá vontade de fechar os olhos e, num passe de mágica,  evaporar. Isso mesmo virar fumaça. Alguém já lhe fez se sentir assim? Não? Então considere-se uma felizarda!   O que não é o meu caso. É desalentador sentir que você não passa de um corpo. Já tive cansaços que geraram insatisfações, cobranças, ironias e viraram poema.




Hoje não sirvo
Para o que sirvo.
Estou cansada...
E o cansaço atrapalha.
O corpo quer colo
Macio...
Almofada...
Afundar no sofá,
Sem pensar,
Ao som de música lenta.
O meu corpo
Quer colo
Que só queira o coração.

                                     Maria do Carmo Marinho



sábado, 23 de abril de 2016

PARADOXO







A um profundo amor à natureza, que a todos pertence por dádiva de Deus, se contrapõe uma aversão às repressões e injustiças sociais. Amor e Ódio: um PARADOXO.

Amo a vida!
No vento que sussurra,
Na chuva que goteja,
Nas estrelas cintilantes, misteriosas.
Na lua que aparece
Majestosa e bela
E me encanta, deslumbra,
Fascina.
Nas folhas verdejantes,
Saltitantes ao vento...
Nas flores coloridas,
Das mais simples
Às mais exóticas...
Para mim, não existem flores simples,
Todas são majestosas,
Que são iguais para todos,
Que não têm uma roupa
Para cada ocasião,
São sempre flores...
Que perfumam sempre da mesma maneira.

Amo a vida!
Nas águas que escorrem
Lentas e mansas,
No lago que descansa.
Bravias e revoltas
No mar, no oceano,
Nas tempestades...
Nos pássaros que revoam,
Que têm todo o mundo a seu dispor,
Mas ninho, sempre um.
Nas frutas apetitosas,
Das amoras aos cajás,
Doces, azedas, macias,
Todas...

Amo a vida!
Pelo céu,
Azul, o mais lindo que existe.
As nuvens,
Meu Deus, como me encantam!
Fofinhas, parecendo algodão!
Pelo sol que energiza,
Que é vida, calor
Que me aquece
O corpo e o espírito.
Pelos peixes...
Ah! Os peixes...
Não me canso de vê-los,
Pra lá... pra cá,
Cada qual com sua cor,
Com seu jeito.
Considero-os meus irmãos,
Pois sou de “Peixes”.
Tenho por eles um carinho especial.

Amo a vida!
Pelos vegetais
Todos, sem exceção.
Do cáctus ao miosótis,
Da mais frondosa árvore
À minúscula relva.
Amo a todos,
Como a uma parte de mim.

Amo a terra!
Esta força viva
Que dá vida à semente,
Que mantém a vida
No planeta,
E que nos acolhe
Em seu seio
Silenciosa e pródiga
Como última morada.
Esta terra
Onde ensaiamos
Nossos primeiros passos
E, quando já crescidos,
Não paramos pra pensar
Que ela deveria ser de todos
A ser disputada palmo a palmo,
Pela força do capital,
Não restando à maioria
Senão palmos
Num cemitério público.

Amo a vida!
Pelo ar
Que me mantém viva
Ainda que poluído,
Destruído,
Pela insensatez dos homens.
Amo a vida!
Pelos animais
Que povoam a terra,
Controlados apenas pelos instintos.
Que não evoluem,
Mas que não violentam
As leis naturais
Da espécie.
E... diante de tudo
Que me faz amar
Um amor incontestável
E imutável,
Há um paradoxo.
Porque na vida,
Não apenas amo,
Porque...

Odeio a vida,
Quando tenho
Que me ajustar,
Adaptar
A normas anormais
Que me cerceiam
E limitam
Enquanto pessoa.
Que violentam
A minha individualidade.
Quando não posso amar
Livre e sem culpa,
Que me foi introjetada
Por uma educação
Que não “educa”,
Mas condiciona.
Que me torna
Uma máquina
Controlada pelas leis
Dos homens,
Que violam a lei natural
Das vidas.

Odeio a vida!
Miserável e abominável
Da maioria dos homens,
Que por causa de outros homens,
Tão homens quanto eles,
Não têm acesso
À dignidade.
Quando a insatisfação
É uma constante,
Quando o normal
É a anormalidade
De uma sociedade
Ajustada,
Injusta e hipócrita.
Quando a liberdade
É cerceada, castrada, limitada.
Quando produzir e consumir
Se confundem
Num objetivo universal,
Que massifica
E que torna a humanidade
Cada dia mais vulnerável
E menos consciente.

                 Maria do Carmo Marinho