quinta-feira, 1 de setembro de 2016

POEMAS DE AMOR E DOR





                                                                               

 Às vezes  penso que sou a reencarnação da Florbela Espanca. *(risos...) A dor me dói tanto quanto nela doía. Os momentos de dor são importantes. A dor nos modifica, nos torna fortes e nos ensina a só dar valor àquilo que realmente merece.


HOJE

Hoje, meu coração
Já não bate mais.
Bateu muito.
Descompassado... acelerado.
Hoje, não o sinto no peito.
Está quieto, resignado.
De tanto ser machucado
Resolveu,
Aqui no canto, do lado,
Encolher-se tão desolado,
Que nem tocando eu lhe sinto.
Será que morreu?
Pergunto eu, assustada.
Ao que ele responde, magoado:
Não morri.
Estou aqui, no mesmo lugar,
De onde não sairei.
Adormeci, quero paz!
De tanto bater em vão, já cansei.

                                          Maria do Carmo Marinho

PERGUNTA

Por onde andam os dias,
Que encantados fluíam
Assim tão  de repente,
Que ao atinar para o tempo,
Lá fora o sol descaía,
A noite escurecia
E a lua também se abria?

Velhos tempos!
Não tão velhos, foi ontem.
Outros tempos?
Sim, outros tempos.
Quando a fantasia
Contrapunha à realidade,
Que escondia o extremo limite do humano.
Que escondia sentimentos
Tão mesquinhos.
Sentimentos! De onde vêm?
São naturais? Impostos?
Saudáveis? Doentes?
Sentimentos me confundem,
Desnorteiam.
Ponho-me a perguntar,
Sem resposta.
Com estabelecer limites
Entre a maldade e a insanidade?

                                           Maria do Carmo Marinho.

DECISÃO

Não te deixarei chorando,
Para que não sobrepujes sobre o meu amor.
Quero te deixar em calma,
Saindo lentamente,
Como quem assiste ao último ato
Da peça que a vida escreveu.

As peças da vida são reais.
Os personagens também.
Os amores podem ser falsos,
Doentes, alucinados,
Ou verdadeiros.
Assim eu te amei.
Por isso, não te deixarei chorando,
Para que não sobrepujes
Sobre o meu amor.

                                              Maria do Carmo Marinho

POEMA INACABADO

Se vais,  de ti não sinto falta.
O tempo,  a distância,
São inimigos do amor.
Sinto falta de mim.
Do meu sentimento
Que alimenta minha alma,
Que me faz generosa
E alimenta a minha esperança
De acreditar que o amor transforma.
Ah! Os sentimentos!
Tão nobres,  tão mesquinhos...
Não podem mesmo
Ser eternos.

                                                 Maria do Carmo Marinho

I-REALIDADE

Esperei sem esperança...
Porque a esperança é sábia.
Sabe o que pode esperar.
O que tive não foi esperança,
Foi fantasia.
Fantasia tão real,
Que de tão clara a irrealidade
Nem a mim mesma enganava.

                                     Maria do Carmo Marinho


*Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa, nascida em 1894. Teve uma vida marcada por muitos sofrimentos que eram traduzidos em sonetos, que falavam de amor,  tristeza,  solidão, morte, abandono. Foi precursora do feminismo em Portugal e  uma das primeiras mulheres a cursar Direito na Universidade de Lisboa.  Teve um fim trágico. Em 1930 não resistiu à terceira tentativa de suicídio e faleceu. Seus sonetos são de uma força e  sensibilidade ímpares. Merecem ser lidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário