Penso nas verdades que
não existem, porque as verdades foram esquecidas. Relegadas e renegadas as
verdades fazem parte de um mundo onde não chegam as mentiras. A convivência de
ambas é impossível. A verdade adoece quando entra em contato com a mentira. A
verdade é sensível e não suporta a truculência da mentira que a tudo atropela,
a tudo desrespeita e a todos parece enganar. Parece, pois a verdade da mentira não é esta. Quem mente não se engana.
Sabe que a cada mentira dita uma verdade se confirma: a sua fraqueza diante das
pessoas, a sua incapacidade de lidar com a transparência, de assumir
compromissos, de adotar posturas e de se estabelecer com firmeza. Penso nas
verdades que não são ditas. Nas manipulações que acontecem a todo momento, nos
conchavos que se estabelecem, nas farsas
que se armam. Penso nas verdades que destruiriam sentimentos, que provocariam rompimentos,
sofrimentos, que matariam ilusões, que provocariam crimes. Não podem mesmo ser
ditas. Enquanto a mentira existe o amor esquece das verdades, o sonho é acalentado, a ilusão
preservada. Não importa por quanto tempo. “Viva” a mentira!. Diante de tantas
mazelas escondidas, de tanto desrespeito, de tanta ingratidão, traição,
manipulação é melhor mesmo que a verdade não apareça e seja cada vez mais
esquecida, enterrada, de modo a não mais incomodar o já sofrido espírito das
pessoas, tão sem rumo, tão perdidas. Afinal todas merecem um pouco de sossego.
Ainda que de mentira.
Maria do Carmo Marinho