Liguei o rádio do carro
e, em um programa, estava sendo discutido um texto de Oscar Wilde* que fala
sobre os atores. O tema foi escolhido porque naquele dia, 19 de agosto, é
comemorado o dia do ator. Eu não sabia. Localizei na internet o texto que diz assim: “Que sorte têm os atores! Cabe a eles escolher se querem participar de
uma tragédia ou de uma comédia, se querem sofrer ou regozijar-se, rir ou
derramar lágrimas; isto não acontece na vida real. Quase todos os homens e
mulheres são forçados a desempenhar papéis pelos quais não têm a menor
propensão...” O tema foi colocado em debate. Uma das participantes disse
não concordar com o texto, argumentando que os atores não escolhem seus papéis,
mas sim, os autores e diretores . Após defender a sua discordância concluiu com
uma destas frases que chamamos de “frases de efeito.” Segundo ela “A DOR É
INEVITÁVEL, O SOFRIMENTO OPCIONAL”. O primeiro pensamento que me veio foi: onde
será que isto acontece? Em que planeta? Aqui na terra, tenho certeza que não
é. O sofrimento é consequência inevitável da dor, seja ela física, moral ou
emocional. O sofrimento acompanha o ser
humano desde o seu nascimento. O parto representa um momento de ruptura, de separação,
que provoca sofrimento no bebê, sofrimento este que pode até mesmo acarretar
traumas que poderão acompanhá-lo por toda a vida. A morte é precedida por
sofrimento. O luto é um sofrimento. Enfim, sofrer é uma condição inerente à
vida humana e o sofrimento é, sem dúvida,
uma força propulsora de mudança em qualquer pessoa. Poder optar entre sofrer ou
não seria a fórmula mágica, senão para a felicidade uma vez que esta não se
satisfaz com pouca coisa, para a tranquilidade. Viveríamos tranquilamente sem
sofrimento. Que maravilha! Penso que os demais participantes ficaram impactados
com tamanha “filosofia” pois sequer se
manifestaram. O debate continuou e,
sobre a dor, me veio à lembrança uma
afirmação feita pelo professor de Medicina Legal, na faculdade de direito. Era um professor meio amalucado, que
escolheu certo a profissão que exercia: Médico Legista. Seus pacientes eram os
mortos. Dizia ele que os animais não sentem dor e ilustrava a afirmação dizendo
que quando alguém mata um porco ele grita, porém os gritos não representam uma
dor real... Eu considerava tão absurda aquela teoria se é que era uma teoria , que ignorava o resto da explicação. Ele jamais me convenceria. Como também
não me satisfaz a expressão muito usada para consolar alguém num momento de
dor: “TUDO PASSA”. Realmente, tudo
passa. A felicidade... a alegria ... a
dor também passa. AS MARCAS FICAM... muitas delas nunca se apagam. E sobre
a possibilidade de se optar entre sofrer ou não, todos nós gostaríamos de saber
:
Em que planeta isto é possível?
Maria do Carmo Marinho.
*Oscar Wilde nasceu em
Dublin, na Irlanda, em 1854. Foi dramaturgo, poeta e escritor.