Penso
em você mulher
Que
mal acaba de nascer.
Lacinho
na cabeça,
Brinquinho
de ouro ou “bijou”
Não
importa. Furaram-lhe as orelhas.
Nem
lhe consultaram...
Será
a vida que lhe espera
Assim
tão “rosa” como a roupa
Que
compraram pra você?
Penso
em você mulher
Menina
logo a crescer
“Seja
meiga, delicada
Não
saia à rua assim
Não
assente de mau jeito.
Tenha
modos. Não fica bem pra você”.
Eu
lhe trouxe um presente
Boneca
que anda, que chora
E
que até faz xixi.
Não
me esqueci do joguinho
De
panelinhas, lindinhas.
Hoje
o que é apenas brinquedo
Amanhã
será seu conviver.
Penso
em você mulher vaidosa
Que
não se entrega,
Resiste.
O
tempo, ele não pode vencer.
Que
corre daqui, malha dali
Muda
o corte, atualiza,
Comida
bem natural,
Gel,
gelatina, vale tudo.
O
que não vale é ceder.
Penso
em você mulher
Que
no recesso do lar
Não
por opção, por imposição,
É
a rainha.
Rainha
sem cetro ou coroa,
Onde
a “coroa” é você.
Trocada
por duas de vinte
Porque
o tempo passou...
E
o peso só vem pra você
Que
lavou, que cozinhou,
Embalou,
perdeu sono,
Economizou,
construiu.
Você
é a rainha
Submissa
e anulada.
Você
quer correr, quer gritar...
Não
pode. Porque é preciso comer.
Penso
em você mulher que ama
O
amor é tudo pra você.
É
o sol que lhe aquece a alma
Que
alimenta o coração.
Se
entrega,
Se
encanta,
Vai
fundo,
Tem
coragem, vence o mundo.
Enlouquece...
Desequilibra.
Porque
mulher não ama pela metade.
Se
encanta, quem sabe até alucina.
Mas
quando se desencanta
O
desalento é maior.
A
dor é ferida aberta
Porque
amor também dói.
Penso
em você mulher
Que
viveu, que sofreu,
Que
o tempo deixou marcas
Que
só enxergam em você.
Onde
está o seio empinado,
A
barriga lisa, coitada,
Hoje
toda almofadada,
Quantas
vezes esticou
Quantos
filhos carregou.
Hoje
tem culote, “pneu”,
Parece
coisa de máquina
Agora
já meio estragada,
Já
não pode ser usada,
Porque
não dá mais prazer...
Porque
você não parece
Com
modelo de TV.
Penso
em você mulher prostituta
Que
nas noites e até nos dias
Serve
a quem não lhe serve.
Porque
não passa de objeto
Usado,
rejeitado, discriminado,
Ainda
que hoje pareça liberado.
A
sua vida chamam de “fácil”,
Difícil
mesmo é aceitar.
O
seu nome virou rótulo,
Sinônimo
de qualquer mulher.
Mulher
que não se casa,
Mulher
que separa,
Mulher
que dança,
Que
bebe, que ri.
Mulher
que trabalha e que vence,
Você
se “vendeu” pra crescer.
Penso
em você mulher pobre
Na
solidão dos barracos,
Das
choupanas, viadutos,
Onde
a violência é total,
Física
e institucional.
Miséria,
fome e doença
Isto
é tão natural.
Você
também é mulher.
Nasce.
É certo, você está viva.
Vive.
Não é certo. Vegeta.
Morre.
Não faz mal.
Ninguém
percebe.
Reprimem-lhe
o sexo.
Querem
que você se abstenha,
Pra
que do seu útero não venha
Nascer
mais um marginal.
Penso
nisso. É o fim!
Você
que nem sabe o que pensa,
Que
não tem o que comer,
Ainda
tem que proteger,
Quem
nem liga pra você.
Penso
em você mulher rica
Sempre
a mulher do “fulano”
Você
tem tudo
Mas
não tem nome.
Na
coluna social,
Que
enche a página do jornal,
Quero
até lhe conhecer,
Mas
não tem jeito. Impossível.
Você
é sempre “a Sra.”...
Senhora
não sei de quê.
Você
não foi batizada? Registrada?
O
seu nome é acessório,
Que
na linguagem legal,
Segue
sempre o principal.
Penso
em vocês mulheres
Marias,
tão marias quanto eu.
Que
na roda viva da vida
Não
apenas flores colheu.
Lutando
contra a corrente,
Vão
lançando a semente,
De
garra, de luta e coragem.
Semente,
que sei, vai germinar,
Já
que a terra é fecunda,
Pois
não mataram as ideias
E
elas hão de vingar.
Penso
em você mulher,
Que
rotulada, discriminada,
Violentada,
É
e sempre será aquela
A
quem Deus concedeu,
O
dom maior de gerar.
A
vida de todos,
Dos
que amam ou odeiam,
Discriminam,
violentam,
Admiram
ou desprezam.
Todos,
sem exceção,
Tiveram
parte da vida,
Ou
melhor, o início da vida,
Na
vida de uma mulher.
Maria do
Carmo Marinho
Belo Poema, Maria do Carmo!
ResponderExcluirTodas numa junção perfeita de amor, sensibilidade e força.
Parabéns pelo "Dia Internacional da MULHER"!
Obrigada! Mcarmo
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